Definição
Fobia social, timidez, timidez excessiva e ansiedade social podem representar diferentes nomes para a dificuldade importante nas relações sociais devido ansiedade ou medo excessivo com a interação.
As relações sociais são fundamentais para o nosso dia a dia, seja para o desenvolvimento pessoal ou profissional. A ansiedade social, assim como qualquer ansiedade pode ser benéfica em determinados contextos, porém quando excessiva começa a surgir em momentos inapropriados e com intensidade ou duração incompatível com o contexto social, gerando prejuízos importantes na socialização. Então surge o transtorno de ansiedade social.
A prevalência longo da vida costuma estar entre as mais frequentes, tanto dentre os transtornos de ansiedade quanto dentre todos os diagnósticos psiquiátricos avaliados. Entre 10 e 13% de toda população preencherá critérios diagnósticos ao longo da vida.
É mais comum acontecer em mulheres, adolescentes e adultos jovens (período de socialização mais intensa). Com os sintomas geralmente surgindo na infância ou adolescência e durando por anos.
É um transtorno que tem o surgimento relacionado a:
- Fatores biológicos: alterações anatômicas, alterações nos neurotransmissores e fatores genéticos
- Fatores ambientais: comportamentos dos pais e eventos estressores – separação dos pais, maus tratos, adversidades sociais
- Fatores cognitivos e comportamentais: crenças e pensamentos que incluem autoimagem negativa, antecipação de resultados negativos em tarefas sociais, expectativas de desempenho ruim, percepção de que as outras pessoas irão julgar ou ofender e se preocupar em excesso antes das situações sociais e ruminar em excesso após elas, comportamentais de fuga e/ou esquiva diante de estímulos aversivos e dificuldades em habilidades sociais
- Integração dos fatores citados acima
Influências dos pais na ansiedade social
Há uma grande correlação entre fobia social na adolescência e vida adulta e inibição comportamental na
infância.
Os pais são os os principais modelos de referência no desenvolvimento de seus filhos, influenciando nas respostas de medo tanto de forma direta (falando sobre riscos ligados à exposição social) quanto de forma indireta (encorajando ou permitindo a esquiva ou fuga de variadas situações sociais).
O controle excessivo e o comportamento intrusivo, solicitante ou crítico/rejeitador, tendem a aumentar o temperamento de inibição comportamental.
Apresentação clínica
A fobia social é caracterizada por medo ou ansiedade importantes e relacionados a situações sociais nas quais o indivíduo pode ser avaliado pelos outros. Em crianças, o medo ou ansiedade deve acontecer com outras crianças da mesma idade, não apenas nas interações com adultos.
O indivíduo tem medo de ser percebido como ansioso, louco, chato, medroso, bobo, desagradável ou outras percepções negativas de outros indivíduos. Além disso, a pessoa com fobia social tem medo de demonstrar sintomas ansiosos, tremer, ficar com o rosto avermelhado (ruborizado), falar de forma ansiosa a ponto de tropeçar nas próprias palavras. Podem também apresentar medo de ofender os outros e, consequentemente serem rejeitados.
Para evitar ser percebido como ansioso, pode evitar certos atos como beber, comer, escrever ou apontar em público (para não perceberem seus tremores); evitar apertar mãos ou comer alimentos picantes (medo de transpirar); evitar desempenho em público, luzes brilhantes ou discussão sobre tópicos íntimos (medo de ruborizar).
Outros podem ter medo e até mesmo deixar de urinar em banheiros públicos se outras pessoas estiverem no local (parurese ou “síndrome da bexiga tímida”).
Devido a isto, situações sociais tendem a causar medo ou ansiedade na maioria das vezes.
Vale ressaltar que um indivíduo que fica ansioso apenas em algumas situações não tem o diagnostico de ansiedade social.
O transtorno tem duas apresentações: a primeira, envolvendo a maior parte das relações interpessoais (transtorno de ansiedade social tipo generalizado), e a segunda mais limitada à exposição a situações mais explícitas de avaliação de habilidades (como apresentações, competições etc. -> TAS em situações de desempenho).
O indivíduo pode ficar preocupado dias antes de um evento social, chegando até a tentar antecipar alguns discursos antes do dia do evento.
Em crianças, o medo ou ansiedade pode ser expresso por choro, ataques de raiva, imobilização, comportamento de agarrar-se ou encolher-se em situações sociais. Os indivíduos frequentemente evitam as situações temidas ou então tolera com intenso sofrimento.
O medo ou ansiedade é considerado desproporcional ao risco de ser avaliado negativamente e suas consequências – os indivíduos chegam a superestimar determinados fatos que acontecem nessas situações.
Os sintomas interferem de forma importante no desempenho e na rotina do indivíduo, com problemas profissionais ou acadêmicos ou sociais.
O transtorno tende a se iniciar no fim da infância ou início da adolescência e pode perturbar muito a vida de um indivíduo ao longo de muitos anos – inclui problemas nas realizações acadêmicas, interferência no desempenho profissional e desenvolvimento social. Com frequência, essas pessoas são “escolhidas” como vítimas de bullying se não aprenderem estratégias de defesa. Esse padrão pode levar adolescentes propensos à ansiedade a se tornarem grupo de alto risco para ficarem traumatizados. A intensidade dos sintomas pode ser combinada, aumentando o risco de pensamentos e comportamentos suicidas.
As situações sociais mais temidas na infância e adolescência são: ler e apresentar trabalhos em sala de aula; participar de competições; iniciar uma conversa; pedir ajuda; escrever na lousa em sala de aula; pedir comida em um restaurante; comer em público; realizar provas escolares; participar de trabalhos em grupo; ir a festas; falar ao telefone; utilizar banheiros públicos.
Em adolescentes, há um aumento do risco de abandono escolar, limitando o alcance de níveis mais altos de escolaridade. Tendem a apresentar menor quantidade de amigos e pior qualidade nas relações de amizade e amorosas.
É frequente que esses indivíduos apresentem mais de um transtorno ansioso, principalmente outros transtornos ansiosos, transtornos depressivos e transtornos relacionados ao uso abusivo de álcool (muitas vezes usado para se sentir menos ansioso), além de aumentar o risco de suicídio e eventos cardiovasculares. Vale lembrar também o Transtorno do espectro autista, onde muitas vezes a ansiedade é causada pela dificuldade em compreender relações sociais. Para o diagnóstico, também se faz necessária a exclusão de causas orgânicas para descartar causadores de sintomas semelhantes como hipotireoidismo.
É timidez ou ansiedade social?
Na timidez, não há um prejuízo tão importante quanto na ansiedade social. Apesar das dificuldades, indivíduos tímidos conseguem lidar com as situações sociais de forma minimamente adequada. Vale ressaltar que esses indivíduos também apresentam maior risco de desenvolver a ansiedade social.
Tratamento
O tratamento pode ser feito através de medicações ou psicoterapia ou ambos.
A escolha do tratamento depende das preferências do indivíduo ou do julgamento clínico. O tratamento farmacológico e a terapia cognitiva comportamental (psicoterapia) aparentam ter efeitos semelhantes no curto prazo, sendo que a medicação traz melhoras mais rápidas, enquanto os efeitos da psicoterapia são mais duradouros.
FONTES
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5.
Kaplan, H.I; Sadock, B.J. Compêndio de. Psiquiatria- Ciências do Comportamento e. Psiquiatria Clínica. 11ª ed
Clínica psiquiátrica 2ª edição, volumes 2 e 3 – Editora Manole
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